[caption id="attachment_413" align="alignnone" width="1024"] Foto: fotologic / Flickr[/caption]
Olhou em torno de si, e não soube reconhecer onde estava. Via algumas árvores quase nuas, algumas elevações de terreno ao longe, a grama rala debaixo de seus pés. No céu, nuvens que insinuavam chuva. Silêncio. Como tinha chegado lá? Não fazia ideia. Teria ele andado todo o caminho sempre sozinho, sem olhar ao redor, procurando o próximo ponto distante até que a distância virou objetivo, o caminhar virou caminho e ali estava ele no meio de tudo, sem lembrar o que tinha sido e sem saber o que haveria de ser? Podia mesmo alguém andar tão longe que o mundo todo se apagasse e só sobrasse aquela paisagem inexplicável, aquele meio do caminho sem referência e sem sinal da estrada que foi ou deveria ser?
Fosse como fosse, estava só.
Quis pensar, e não pôde. Algo o impedia. Algo que crescia áspero no estômago e que parecia subir lentamente peito acima, que ele respirava fundo tentando engolir de volta e não descia, não descia. Não descia.
Tentou insistir. Precisava pensar. Mas nenhum pensamento surgia. Por sua mente, passavam apenas lampejos de pensar, ideias sem origem, sensações que não tinham relação sequer com conceitos, que dirá com palavras. Era como se o seu espírito não conseguisse sintonizar nada com clareza: era tudo ruído e estática, inúmeros fragmentos de ideia que unidos formavam um grande vazio, uma única solidão.
Dentro dele, a coisa áspera crescia. Diante de seus olhos, o mundo enchia-se de vazio.
E então ele entendeu que sentia. E o céu explodiu em chuva e trovão, o vento surgiu varrendo tudo, e a tempestade desabou gritando e rugindo como fúria e como bênção. Cobrindo o mundo todo. Encharcando-o de cima a baixo.
Não havia onde se proteger, pois ele próprio era a tempestade.