quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Espasmo

Porto Alegre é minha companheira, minha amiga e minha amante. Às vezes a exploro com mãos ansiosas, subo e desço por trilhas desconhecidas como numa alucinação, sem olhar para os lados. Ela me quer. Minha imaginação corre por suas ruas; por vezes acelero, em outros instantes quase paro de todo, contemplando a mim mesmo dentro dela. Estamos unidos. Cúmplices. Às vezes bebo demais, cambaleio, avanço desajeitado, inseguro. Temo. E então ela me convida, sorrindo, encoraja-me em meio à cinzenta imprecisão. Eu vou. Por vezes sinto calma em meio ao turbilhão, seus braços me envolvem com a certeza de um lar. Me beija. Me fere. Ouço seus sons, e eles são os meus sons também: um dialoga com o outro em uma sintonia indistinta, livre das correntes e das palavras. Outras horas são de arrebatamento feroz: a amo com tanta urgência que é como se desejasse desaparecer nela, ser parte de sua essência. Tremendo. E então me abandono no fluxo, vou e vou e vou enquanto ela vem e vem comigo. Já não existo mais: sou o existir, e existimos juntos, magicamente unidos. Somos. E às vezes a acaricio apenas, trazendo no rosto o sorriso que enxergo no sorriso dela, ambos recuperando o fôlego depois do amor.