Houve um tempo em que os da minha espécie se juntavam para uivar em direção à Lua. Vínhamos de todos os lados, banhados pela noite, convocados pela lua cheia para a grande celebração. Uivávamos para agradar a lua e gritar em direção a ela toda nossa satisfação em existir. Eram momentos intensos, que eu saboreava com a alegria inconsciente dos que estão em seu lugar, entre os seus. Éramos muitos, éramos inteiros, éramos belos e cheios de vida. O mundo nos sorria, e sorríamos de volta.
Hoje, ando só. Dos meus, nunca mais tive sinal. Temo que tenham partido, ou então que tenham sido vencidos e subjugados até a extinção. Fui deixado para trás, em meio a seres que se dizem meus iguais, ainda que não guardemos nenhuma semelhança. Busco algum sinal de reconhecimento, algum sobrevivente, um olhar que entenda meu olhar: ninguém me sorri de volta. Por instantes, chego a duvidar de tudo, achar que nada jamais existiu e que eu mesmo sou alguma espécie de ilusão. Mal consigo disfarçar a ânsia e o desespero.
Às vezes, ainda saio para ver a lua cheia: me junto a eles, os que tomaram o lugar da minha espécie, e tento uivar junto com eles, como quem acerta o passo em uma dança que desconhece. Por instantes, quase me convenço de que nada mudou. E fecho os olhos, lembrando de tempos mais felizes, saboreando os poucos instantes antes que a ilusão seja quebrada e reste apenas o desconsolo.