sábado, 10 de dezembro de 2011

And now there's only one left to remind how it could have been


Houve um tempo em que os da minha espécie se juntavam para uivar em direção à Lua. Vínhamos de todos os lados, banhados pela noite, convocados pela lua cheia para a grande celebração. Uivávamos para agradar a lua e gritar em direção a ela toda nossa satisfação em existir. Eram momentos intensos, que eu saboreava com a alegria inconsciente dos que estão em seu lugar, entre os seus. Éramos muitos, éramos inteiros, éramos belos e cheios de vida. O mundo nos sorria, e sorríamos de volta.

Hoje, ando só. Dos meus, nunca mais tive sinal. Temo que tenham partido, ou então que tenham sido vencidos e subjugados até a extinção. Fui deixado para trás, em meio a seres que se dizem meus iguais, ainda que não guardemos nenhuma semelhança. Busco algum sinal de reconhecimento, algum sobrevivente, um olhar que entenda meu olhar: ninguém me sorri de volta. Por instantes, chego a duvidar de tudo, achar que nada jamais existiu e que eu mesmo sou alguma espécie de ilusão. Mal consigo disfarçar a ânsia e o desespero.

Às vezes, ainda saio para ver a lua cheia: me junto a eles, os que tomaram o lugar da minha espécie, e tento uivar junto com eles, como quem acerta o passo em uma dança que desconhece. Por instantes, quase me convenço de que nada mudou. E fecho os olhos, lembrando de tempos mais felizes, saboreando os poucos instantes antes que a ilusão seja quebrada e reste apenas o desconsolo.