O Gavião Casaca-de-Couro observava o movimento no passeio público, mantendo seu ar de majestosa indiferença enquanto a vida passava diante de sua gaiola. Em um dos galhos da pequena árvore sem copa, tomava sol com a imponência das aves mais nobres, dos animais que nada temem e que tomam a natureza para si sempre que necessário.
Após um tempo que não nos importa mensurar, pousou diante do Gavião Casaca-de-Couro uma pomba manchada de preto e marrom. Aterrissou no chão batido, ciscou uma ou duas vezes e depois ergueu a cabeça, contemplando o Gavião Casaca-de-Couro com respeitosa seriedade. O Gavião Casaca-de-Couro pouca atenção deu à pomba miserável no começo, mas depois resolveu conceder-lhe um olhar de soslaio, misto de desprezo e piedade, como se desse à pomba maltrapilha um presente ao destinar a ela um mínimo de atenção. E se olharam por instantes - a pomba vagabunda com os pés na areia rala, o Gavião Casaca-de-Couro pousado na árvore nobre em sua jaula imponente.
Disse a pomba apenas uma frase:
- Que triste, ficar preso aí dentro o tempo todo.
E saiu voando, diante do olhar chocado de seu interlocutor, carregando no coração uma piedade genuína do coitado Gavião Casaca-de-Couro.