[caption id="attachment_334" align="alignleft" width="211" caption="Foto: Coletivo Muralha Rubro Negra / Divulgação"][/caption]
Sonhei que estava em uma coletiva de imprensa na qual falaria o Brilhante Ustra. Pelo jeito, ele ia anunciar que estava livre de processos judiciais, comemorar a impunidade garantida a ele pela Lei da Anistia - ao menos, é essa a pauta que eu recordava ter recebido. A sala era ampla e estava cheia de entusiastas, muitos militares, alguns poucos repórteres. Um deles, conhecido meu de pautas em Assembleias e Câmaras por aí, comentou comigo, em voz baixa:
- Pelo jeito, esse cara se escapou mesmo...
Respondi em um cochicho:
- Se escapou nada, nem imagina a matéria que eu vou fazer sobre essa palhaçada toda!
Ustra estava com uma expressão radiante, plena de confiança. Sorria. Recebia tapinhas nas costas. No centro da sala, uma imensa bandeira brasileira, de verde vivo e chamativo. Nos cantos do palco (pelo jeito, a coletiva seria em um palco), estranhos arranjos misturando rosas brancas, lírios e metralhadoras.
Eu, sentado a um canto, sinto nojo daquilo tudo.
Começa a tocar o hino nacional. Todos se erguem, em júbilo absoluto, para saudar a pátria mãe. É como a abertura de uma convenção partidária. Eu permaneço sentado, segurando o bloquinho e a caneta.
- O senhor precisa se levantar. É o hino - diz uma pessoa, cujo rosto eu não enxergo.
- Não vou me levantar - respondo eu, em voz branda, mas já prevendo incomodação.
- Levante e saúde o líder - disse outro, mais ríspido, me tocando no ombro. Repeli sua mão. Outras pessoas começam a se aproximar. Meu colega jornalista (que estava de pé, mas sempre esteve de pé, então não era por adesão a eles que se erguia) tentava debilmente me defender.
- Não vou levantar. Não vou! - continuava eu, já cercado, levando os primeiros empurrões, enquanto o hino tocava mais alto, cada vez mais alto.
Acordo a instantes do linchamento.