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Imagem postada pelo perfil no Facebook do Movimento Cidades Invisíveis
Pois olha, seu delegado
É forçoso reconhecer
Que a rima foi fora de hora
Que o poema não colabora
Para a clara compreensão
Dos meandros da situação
Que o B.O. quer descrever.
No entanto, seu delegado
Diria a vossa excelência
Que não cabe severidade
Contra a irregularidade
Cometida pelo bobo soldado
Que inventou de fazer rimado
O registro de ocorrência.
É que a rima, seu delegado
(e eu digo por convicção)
Está sempre dentro do cabra
Esperando que a porta se abra
E na distração do sério vivente
Papel e caneta inventem
Um pouco de malcriação.
A poesia, seu delegado
Nunca segue regra ou rito;
Informa o não importante
Esquece o que é relevante
Tira o muito do meio do nada
Se mete onde não é chamada
- Mas deixa tudo bem bonito.
Decerto, seu delegado
Os deveres da delegacia
Nada têm a ver com beleza;
A luta é contra a malvadeza
O negócio é punir o delito.
Essas coisas, eu sei - e repito
Prescindem de poesia.
Mas veja bem, delegado
- e perdoe essa minha ousadia;
Os caminhos tortos do homem
As maldades que tudo consomem
O não amor no peito da gente
- não será tudo justamente
Porque nos falta poesia?
Foi errado, seu delegado
Uma irresponsabilidade;
Mas o soldado abestalhado
Que inventou de escrever rimado
O registro de coisa séria
Certamente não tinha na ideia
Nenhum ranço de maldade.
Então peço, seu delegado
Que arquive essa confusão.
Que diga ao soldado bobo
Para não fazer isso de novo
E que se volte a proteger gente
Sem que o bobo soldado enfrente
Nenhuma maior punição.
Porque a rima, seu delegado
Não se importa com quem a julga
Nunca cumpre a pena devida
Segue sempre foragida
Local incerto e não sabido
E mesmo em flagrante delito
Ela consegue imprimir fuga.
Obrigado.