[caption id="attachment_403" align="alignleft" width="300"] Foto: Fiore Silvestro Barbato[/caption]
Este é seu nome, dizem, e este é seu trabalho, dizem, e esta é a sua função e a sua casa e as suas posses e as suas bandeiras e isso é tudo que você pode ser, dizem.
De início, eu tentava discutir. Mostrar que não era de mim que falavam, que aquelas cores e insígnias não correspondiam à minha pessoa. Levou um tempo para que eu percebesse que minha recusa em aceitar aquelas insinuações era justamente o que mantinha encarcerado naquele lugar. Passei, então, a cogitar a mentira e o engodo: dizer que sim, eu tinha aquele nome e tinha sido aquelas coisas e que não via problema em vestir aquela história que haviam criado para mim. Mas logo vi, felizmente a tempo, que tal comportamento não me libertaria, apenas mudaria a natureza de minha prisão. Poderia sair, mas minha nova prisão iria comigo para onde eu fosse, ainda mais intensa e cruel - o cárcere do não existir, nem atrás das grades e nem em lugar algum.
Hoje em dia, aguardo, e planejo minha fuga. Sigo sem cooperar, mas tenho adotado uma postura mais contemplativa, observando em silêncio enquanto me atribuem um nome que abomino e um passado que desconheço. Não mais nego o que me dizem, e tampouco assumo qualquer um daqueles absurdos: apenas silencio, como quem ouve longa cantilena em uma língua que desconhece.