Resumindo brevemente: em entrevista concedida na manhã desta terça-feira (16) à Rádio Gaúcha (e que pode ser ouvida aqui), o presidente da Câmara de Porto Alegre, Dr. Thiago Duarte, demonstrou estar um tanto abalado com a situação que envolve a ocupação da Câmara de Porto Alegre. Com voz embargada, pede que a população perceba que o movimento que está há quase uma semana ocupando a Casa não é pacífico, mas sim violento e movido por interesses partidários. Compara a ação dos manifestantes com um atentado à democracia, diz que está impedido o direito de ir e vir, que foi além do que é possível em uma busca de solução. Indagado pela entrevistadora Rosane de Oliveira se está chorando, faz duas longas e dramáticas pausas, antes de retornar a falar de forma que me pareceu um bocado desconexa. Nada diz sobre sua disposição em aparecer na audiência de conciliação de quarta-feira, nem sobre as possiblidades de retomar diálogo com os manifestantes: apenas expõe seu imenso desconforto com toda a situação, no tom inequívoco de quem faz um grande desabafo.
Vou assumir a sinceridade da comoção do Dr. Thiago Duarte na entrevista que deu há pouco na Rádio Gaúcha. Sim, porque assumir que o presidente da Câmara estava interpretando um papel, além de insinuação grave, é algo que o colocaria desde o início em má posição nesta breve análise, o que eu considero injusto. Parto então da hipótese obviamente mais benéfica para o Dr. Thiago Duarte: a de que ele comoveu-se sinceramente ao falar da ocupação da Câmara de Porto Alegre e, portanto, sente-se sinceramente abalado com o andamento da situação. Analisando friamente, não tenho nenhum motivo para duvidar disso.
Nesse caso, me vejo forçado a sugerir que o Dr. Thiago Duarte afaste-se em definitivo das negociações com o Bloco de Lutas e com todos que no momento ocupam a Câmara de Porto Alegre. Porque o impasse já dura quase uma semana, e não será resolvido senão com serenidade - atributo que, a se julgar pelas últimas manifestações, o presidente da Câmara não está mais em condições de oferecer. Uma pessoa que chora ao falar de um problema de tal dimensão não está em condições de enfrentá-lo de frente. Uma pessoa que, com voz embargada, acusa seus interlocutores de racismo e de estarem "esfaqueando" e cometendo um "estupro" contra a democracia não está com a mente suficientemente clara, o pensamento cristalino, a capacidade de decisão no ápice. Está, isso sim, abalado. Cansado, desgastado, com o pensamento confuso. Com dificuldades de lidar com uma questão que personalizou de tal forma que virou motivo de dor psicológica, de agonia e sofrimento. Não está em condições de negociar. E creiam ou não, digo isso sem nenhum tipo de maldade, de ironia ou de condenação. Apenas constato algo que, para mim, torna-se impossível não enxergar.
Admitir uma eventual debilidade ou fraqueza momentânea não é algo vergonhoso. Pelo contrário: eu mesmo, por exemplo, estou doente e por isso me vi forçado a ficar alguns dias sem ir não só até a Câmara, mas a meu próprio local de trabalho. É algo que me deixa chateado e me provoca uma sensação de impotência bastante grande - mas pior seria se eu fingisse estar capaz de executar minhas tarefas, causando ainda mais problemas do que a minha ausência temporária possa provocar. Acho que cabe ao Dr. Thiago Duarte a mesma reflexão. Que ouça a própria entrevista, que releia suas declarações anteriores e perceba que está demasiado abalado, que não mais enxerga a questão com clareza, que corre sérios riscos de prejudicar a cidade que o elegeu caso insista em tentar administrar essa situação. Fazer isso não seria um fiasco: seria uma demonstração de grandeza. Seria um gesto em favor de Porto Alegre. Passe a negociação para seu vice e vá para sua residência, recuperar-se. Até porque, depois que tudo isso passar, só um Dr. Thiago Duarte com controle pleno dos seus nervos será útil para a cidade de Porto Alegre.
Tudo isso, é claro, assumindo a sinceridade de sua reação durante a entrevista na Gaúcha - algo de que, como antes dito, não tenho razões para duvidar. Porque sempre presumo o melhor das pessoas, em especial das que estão em tão elevada posição, lidando com questões tão importantes para o futuro da cidade onde vivo e que tanto amo.