[caption id="attachment_463" align="aligncenter" width="800"] Foto: Lee Edwin Coursey / Flickr[/caption]
Não sei quando volto, gritou enquanto saía porta afora. Correu, mal conseguindo manter o fôlego, tomado de cima a baixo por imensa, inarredável urgência. Pelo caminho, foi se desfazendo de tudo: gravata, sapato, meias, carteira, paletó. O relógio jogou longe com força, ânsia; mal ouviu o som do metal e do vidro caindo e quebrando contra o asfalto quente atrás de si. Ouviu que diziam algo a ele, que estendiam os braços, tentavam detê-lo. Não se voltou nem por um instante: seguiu correndo, ainda que arquejante, deixando para trás os pedaços de tudo que havia sido.
Mal conseguia respirar quando finalmente chegou à costa. Mergulhou na água gelada sem tomar fôlego, braçada após braçada, nadando, arfando. Tinha pressa. Não sei quando volto, gemeu uma vez mais.
A essa altura, ninguém mais se colocava em seu caminho.
Nadou por muito, muito tempo, até chegar a uma praia de areias escuras, pequena enseada de minúscula ilha. A essa altura, já estava quase nu. Fixou os pés na areia, tentando acalmar o peito descontrolado e enlouquecido. Não conseguia respirar.
Tomado de ânsia, levou a mão ao rosto. E jogou longe a máscara, que foi cair na estreita linha de água delimitando solo e oceano, formando pequenas ondas.