"E se tu estiveres errado?"
"Sobre o quê?"
"Sobre tudo. O que tu acreditas, o que tu defendes, tuas ideias, ideais. Todas as coisas. Tudo."
"Ninguém está errado sobre tudo. Nunca."
"Mas pode estar, ora. Tu podes estar errado sobre a vida, sobre Deus, sobre política. Podes estar errado em gostar de algumas pessoas e não gostar de outras. Podes estar errado em achar que algo é ruim e outro algo é bom. Podes estar errado em achar que algo pode mudar ou que algo vai ser sempre do jeito que hoje é. Pode estar errado em tudo, absolutamente tudo que tu fazes e que tu pensas. O que te impede de estar errado sobre tudo isso ao mesmo tempo?"
"Se eu tento estar certo, não estarei errado".
Houve um breve silêncio.
"Mas tu podes tentar estar certo para ti mesmo apenas. Querendo estar certo para o teu bem apenas. Passando por cima dos outros, do mundo. E aí estarás errado. Não é mesmo?"
"Não estarei tentando, nesse caso. Estarei apenas desistindo de tentar."
Desta vez, o silêncio foi mais duradouro. Quebrado apenas pelo zumbido dos pequenos insetos em torno da lamparina a óleo, única luz daquela noite sem lua e sem estrelas.