A mão me toca no ombro de surpresa, interrompendo meu devaneio-caminhada na manhã de muitos rostos e ausente de conhecidos no centro de Porto Alegre.
- Cara, tu é um privilegiado - me diz o homem de meia altura, cabelo castanho claro, rosto bem escanhoado, boca tremendo em um sorriso que tentava ser simpático. Obviamente, não entendi nada.
- Mesmo? - respondi, tentando sorrir de volta. - E por quê isso?
Ele sorri, agora de forma mais aberta, e aponta para o próprio rosto.
- A barba - acrescenta, quase em júbilo, como se ao dizer isso magicamente tivesse ele também o rosto coberto de fios. - Quisera eu ter uma barba como a tua. Sempre quis ter e nunca cresceu.
Contou-me rapidamente, com frases breves, que nunca lhe surgiu mais do que breves fios de bigode e uns tocos de barba no queixo, o que certamente o tinha deixado bastante frustrado com a própria genética. Elogiou mais de uma vez minha barba e completou:
- Porque barba bonita é bem cheia, assim que nem a tua!
Despediu-se com um aperto de mão breve e comovido, como se eu lhe tivesse prestado algum grande favor, pelo qual se sentisse muitíssimo grato.
Incrível, o que às vezes faz falta às pessoas.
Sigo sem entender o que a minha barba fez para merecer tanta deferência. Mas vou esperar mais uns dias antes de apará-la, por via das dúvidas.