Do infinito viemos, ao infinito retornaremos. O tempo, ou essa precária sucessão de números empilhados um sobre os outros que nos acostumamos a chamar de tempo, só faz sentido para nós mesmos, nesse breve hiato de som e confusão entre a quietude que foi e a calma que será. É um sentido pobre, porém, fruto do súbito terror da consciência diante do absurdo desaparecimento de todas as coisas. Nada fica, diz o Mundo. Algo deve ficar, teimamos em resposta. Que algo fique, que alguma coisa sobreviva pelo trajeto, que permaneça pelo menos o símbolo, registro dos lampejos de luz em meio à aparente escuridão total. Assim, pelo engenho de nossa mente e pela precisão de nossa matemática, foi criado o calendário. Bela e frágil gaiola que, em sua ingenuidade de brinquedo infantil, pretende capturar o que passa e impedir que se vá de volta ao infinito que foi e será. Um invento engenhoso, mas que jamais funcionou.
Mesmo assim, insistimos. E com nossa obsessão por contar segundos, acabamos temendo e negando o tempo que insiste em surgir em meio aos dígitos. Odiamos a memória que some, a ruga que surge, o presente que no milésimo de segundo seguinte já é passado. Nossas contas são falhas; nossos relógios giram de forma estúpida enquanto as coisas passam, passam, vão e nunca voltam, sem dar aos ponteiros a mínima atenção. Mas tamanho foi nosso esforço, tantas são as engrenagens do monstro que devora intervalos de vida que se tornou impossível desmontá-lo. Somos, portanto, escravos da nossa própria invenção.
Pudéssemos, faríamos do instante um prisioneiro. Daríamos um jeito de congelar a juventude passageira, o gozo do que se foi e o sorriso que não volta mais. Pararíamos o mundo e o guardaríamos como um troféu, sem saber direito o que fazer com ele, contentes demais com a aparente conquista para entender de que, uma vez mais, ela não nos prestaria para nada. E a Verdade, confusa com tantos números e cálculos para entender o que deveria ser tão simples, deitaria na relva e se poria a contemplar as estrelas, logo esquecendo da tolice dos homens.
Do infinito viemos, ao infinito retornaremos. O tempo, ou essa precária sucessão de números empilhados um sobre os outros que nos acostumamos a chamar de tempo, só faz sentido para nós mesmos, nesse breve hiato de som e confusão entre a quietude que foi e a calma que será.