[caption id="attachment_446" align="alignright" width="257"] Foto: chausinho / Flickr[/caption]
Há tempos eu venho me preocupando um pouco com as pombas mutiladas de Porto Alegre. As vejo em todos os lugares: animais com patas retorcidas, dedos faltando, às vezes com não mais do que um toco de carne deformada no local onde antes deveria haver uma de suas pequeninas garras. O número de aves com semelhantes mutilações, pelo que percebo com minha empírica e nada científica amostragem pessoal, não para de aumentar. Pombas que manquitolam tristemente, pousando tortas nos fios de alta tensão, sempre com aquele ar de indistinta afetação tão comum aos pombos e pombas de todos os lugares. Sei bem que pombas não despertam simpatia em quase ninguém, mas eu sempre as enxerguei com um respeito próximo da anuência, fruto da admissão de que elas se adaptam ao perímetro urbano tão bem, ou ainda melhor, do que os humanos responsáveis pela estrutura que os devora. Então as observo, como observo todo o resto, e fico ligeiramente intrigado com o número crescente de pombas decepadas que enxergo por aí.
Não que a explicação seja muito difícil, na verdade. Basta olhar para o número igualmente crescente de cercas espiraladas, repletas de afiadíssimas navalhas, cobrindo os topos cada vez mais altos dos nossos cada vez mais numerosos muros e gradis. Estão lá, como sabemos, para evitar que pessoas pulem para o outro lado e cometam algum tipo de crime contra a propriedade alheia. Mas fico imaginando como aquelas estruturas devem ser confusas para as pombas, que de propriedade privada não entendem coisa alguma e não raro devem enxergar na estrutura um local para pouso ou algo assim. E deixam suas garras e patas dependuradas nas lâminas dispostas em espiral, vítimas inusitadas da necessidade do homem de dizer que tem a posse de alguma coisa.