sábado, 10 de agosto de 2013

Observação

É estranho, enquanto observador, saber-se não observado. Observar é uma arte negligenciada em nosso mundo: poucos observam. Olho todos com os olhos de quem não é alvo dos olhares de ninguém. Observo só. Então, sei que pouco provável é que me observem, esteja eu onde estiver, seja lá qual fatia do mundo eu esteja a observar.

Saber isso traz a mim uma estranha liberdade. Quase como saber-se seguidor de uma doutrina quase esquecida, uma fé secreta. Algo que existirá enquanto o mundo for mundo. Uma pertença em meio à solidão.

A solidão não é claustro nem castigo, nesse caso. A solidão sou eu. Eu sou minha própria solidão. Minha fronteira sou eu mesmo - além de mim, o que existe? Jamais saberei: da minha existência perante o mundo, nunca perceberei mais do que pálidos e imprecisos reflexos. Dos olhos que porventura me enxergam, pouquíssimos me verão, nenhum saberá de fato quem sou.

O que me constitui é também a ausência de olhares sobre mim. Existo em mim mesmo. E estou completo. Estou em paz.