[caption id="attachment_690" align="alignnone" width="900"] Foto: Ramiro Furquim / Sul21[/caption]
A cidade não para de suar.
Os relógios gritam. Os termômetros gritam. Todos gritam. Todos se movem. O automóvel. Sinal verde. Tudo no mesmo lugar. As escadas. A caixa de correspondência. Água, luz, internet, telefone. Terno e gravata. Calça comprida. Sapatos. A bolsa de couro. Tecido sintético. Poliéster. Compromissos. A refeição. Filas. Cartão de crédito. Água com gás. Garrafa de plástico. Lixeiras. Desvios de trânsito. Asfalto. Concreto armado. Basalto. Um prédio que se ergue, um viaduto que surge como torto milagre em meio ao espaço antes vazio. Tinta branca. Linhas grossas e regulares no cinza do pavimento. Entre os edifícios, corredores estreitos. Todos correm. Todos aguardam. Buzinas. Gritos. Todos gritam. O mundo gira. Não há ônibus. Não há sombra. Não há para onde fugir.
Foge para casa. As janelas fechadas. Ar-condicionado. Geladeira. Lençóis. Te ligo mais tarde. A água quente no chuveiro, quente na torneira. Em nossos poros. Escorre. Louça na pia. Não há mais água. Não há energia elétrica. Acendemos uma vela. Estamos nas trevas.
É impossível dormir.
Seguimos suando semana afora.
Há uma cidade enorme, uma cidade imensa, ardendo dentro de nós.
(concluído às 02h38 da madrugada de 08 de fevereiro de 2014. Sensação térmica: 39 graus)