Nunca fui um desenhista. Sequer cheguei perto disso, na verdade. Talvez tenha uma pequena dose de talento: sou capaz de dar formas razoavelmente proporcionais a uma figura humana e consigo desenhar uma série de objetos, animais e plantas de forma facilmente compreensível - embora, é claro, de forma absolutamente instintiva e sem nenhum domínio de técnicas de desenho. Mas gosto de rabiscar desenhos nos cantos do papel: me ajuda a pensar. É como se o lápis ou a caneta, na medida em que deslizam e formam imagens não planejadas no papel, abrissem espaço para outras ideias, ainda sem forma - impressões, analogias, soluções que aproveitam a trilha e saltam para fora do meu subconsciente, tomando forma rapidamente na minha imaginação. São geralmente produtivos, os momentos em que tenho um papel em branco e muita margens livres para desenhos pobres de técnica, breves e irrepetíveis retratos de qualquer coisa que me venha à mente.
Uma coisa, porém, não consigo desenhar: pessoas infelizes. Sim, é uma pequena bobagem, mas é fato - se eu desenho uma caricatura humana com os lábios voltados para baixo, me sinto imediatamente culpado, chateado comigo mesmo, quase envergonhado. Passo imediatamente a encarar o desenho como uma maldade que cometi - afinal de contas, condenei o desenho a ser permanentemente, eternamente infeliz. Um desenho não pode sorrir por vontade própria: se eu o faço com um aspecto miserável, assim ele vai sentir-se por todo o sempre, assim será seu estado de espírito sempre que algum olhar pousar sobre ele, em todos os momentos, enquanto a tinta ou grafite for visível e o papel existir. É uma decisão muito séria, fazer um desenho infeliz, e por isso eu evito ao máximo colocá-los nesta situação. Faço-os contemplativos, distraídos, confusos, irônicos, maliciosos ou exultantes - infelizes, jamais. Na minha caneta, todos estão no máximo ressabiados; se sou eu que invento, então não vou inventar nada sofrido, nenhuma tristeza que eu não possa desfazer. Na vida e no papel.