domingo, 16 de novembro de 2014

Sobre sermos o sonho de nós mesmos

Às vezes penso que todo sonho é um recorte de nossa vida em outro universo. Gosto de pensar que, quando adormecemos, nosso subconsciente se liberta e consegue acessar o tecido do tempo, saltar dos limites deste existir rumo ao espaço infinito onde nosso existir é múltiplo, onde vivemos miríades de vidas que sequer conseguimos conceber. Nossa mente sintonia alguma outra das infinitas frequências que marcam a nossa eternidade individual, e nos concede essa estranha dádiva que é ver outra pequena fração da nossa multiplicidade. E alguma coisa permanece, algo conseguimos lembrar de forma indistinta e incoerente quando o encanto se desfaz e voltamos a sintonizar nosso presente específico. Gosto de pensar que nossos sonhos são vislumbres de existências que de fato ocorrem em algum universo à parte: que em algum lugar realmente temos aquela profissão, moramos naquela cidade, fazemos amor com aquela pessoa, morremos daquela exata maneira. Que cada detalhe ínfimo e impossível, cada sensação estranha e inexplicável é a mais simples e natural realidade em algum lugar. Nossa realidade.

O que somos nós, senão o resultado de tudo que poderíamos ser e não somos? Em algum lugar, tudo que imaginamos é realidade, e esse existir que tanto prezo nada mais é do que um cenário de sonho, uma alternativa altamente improvável e profundamente incoerente. O que sou aqui é o que poderia ter sido em infinitos outros mundos; sou o sonho de mim mesmo em universos que jamais poderei compreender.