sábado, 13 de dezembro de 2014

A respeito de quem erra

Vocês sabem que pessoas erram, né? Que às vezes se enganam, certo? Que não raro estão simplesmente equivocadas. Pouco ou muito, mas erradas. Que muita gente com muitas ótimas ideias de vez em quando diz uma besteira, escorrega em um preconceito não plenamente superado, deixa-se levar pela raiva ou inconsequência. E que isso, queiramos ou não, é um aspecto humano - ou seja, todo mundo com idade suficiente para fazer qualquer coisa por si próprio já errou, e todo mundo que viver mais alguns dias que seja provavelmente vai errar de novo. Que eu provavelmente estou errado em algumas ou várias coisas, expressas ou não, neste exato momento. Que provavelmente você também está, mesmo que nem esteja consciente da natureza desses eventuais equívocos. Concordamos nisso?

Quando eu falo (e falo isso quase obsessivamente) em não resumir pessoas a um só de seus aspectos, eu falo exatamente disso. Pessoas são múltiplas. E erram. Às vezes, erram muito em intensidade ou consistentemente no tempo. Não resumi-las significa acreditar não apenas nelas individualmente, mas na humanidade. Devemos desistir de quem acreditamos que erra ou age mal? É assim que queremos o mundo - uma eterna disputa de quem está conosco vs. os nossos oponentes/inimigos, e quem escorregar para o outro lado está condenado a lá estar eternamente? Para onde iremos, se tudo que enxergamos for sempre a discordância, se tudo que nossos olhos veem no outro é o que existe nos separando, em detrimento de tantas coisas que talvez nos unam ou possam nos unir?

A oposição é necessária. Fundamental em vários casos. Mas opor-se é separar-se. E justamente por ser a separação algo tão drástico, tão intenso e não raro irremovível, que a oposição deve (ao menos assim penso eu) ser sempre temperada pela consciência de nossa multiplicidade. De que somos uma coleção de erros e acertos, concordâncias e discordâncias. E que se ando outra trilha e me separo do oponente não é porque o odeio, mas porque tanto amo outras tantas pessoas que a trilha oposta torna-se uma opção impossível. E quem sabe o opositor é alguém que está apenas errado e, de repente, é possível puxar para a trilha de cá, com conversa e com o exemplo. Se a construção é impossível, então que tudo desabe; mas discordo do outro para construir, não para colocar ao chão.

O ser humano é múltiplo. Sugiro respeitosamente que nunca esqueçam isso, mesmo quando parecer mais difícil, talvez até insuportável. O ser humano é múltiplo. E é nisso que está a nossa chance, individual e coletiva, de salvação.