quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os protestos: uma tentativa de análise

Acho que o que está acontecendo no Brasil não precisa, em absoluto, do meu entendimento. Está vindo, é forte e intenso, e o que eu acho ou deixo de achar no fundo não faz a mínima diferença. E isso é belíssimo.

Mas gostaria de apontar o fato de que essa situação toda está começando a me lembrar de Londres 2011 um pouco mais do que eu gostaria.

[caption id="attachment_512" align="alignnone" width="900"]Foto: Ramiro Furquim / Sul21 Foto: Ramiro Furquim / Sul21[/caption]

Não tenho medo dos reacionários ou do recrudescimento do autoritarismo, como percebo em muitos neste momento. Que as Polícias Militares mantêm a ditadura em plena (e um tanto frágil) democracia, infelizmente já era algo sabido. Quanto às tentativas conservadoras de puxar os protestos para si, acredito que elas vêm e passam, como já vi acontecer anteriormente. Esses grupos veem algo acontecendo, tentam se agregar (já que falta força neles para legitimar um movimento próprio), acabam não conseguindo e se afastam.

O que começa a me causar preocupação é um outro grupo, que não tem nenhuma identificação específica com bandeiras, que legitima-se na própria revolta e mais nada. Gente que sim, vai à rua buscando a pura catarse de umas vidraças quebradas e do confronto com as forças policiais. Gente que quer o confronto porque precisa dele para sentir-se mais vivo. E que, na medida em que os protestos ficam mais acéfalos, ganham mais e mais espaço. Uma revolta que existe e que não julgo, mas que me causa as primeiras pontadas de preocupação.

Porque, no momento, meu coração diz que ISSO SIM é potencialmente perigoso.

Eu poderia passar semanas aqui explicando como essa violência, essa destruição que basta em si mesma, essa disposição pura e simples pelo confronto com a PM, como eu vejo tudo isso servindo ao Estado em todos os níveis possíveis, ao invés de prejudicá-lo. Não é à toa que tanto se fala em maioria pacífica e minoria de vândalos no noticiário - porque quem legitima a truculência do Estado não é a maioria, e sim a minoria. São eles que ganham destaque e será em nome deles (ainda que não por causa deles) que as bombas e as balas e o gás e o cassetete continuarão caindo sobre nós. Limitando tudo às regras que o Estado tão bem conhece e tão bem sabe manipular a seu favor.

Para mim, o que estamos vendo aqui é um processo de apoderamento político - grupos que haviam perdido a voz e agora estão a reencontrando. São grupos que se somarão aos antigos, e os reforçarão, como agentes políticos e movimentos da sociedade. Esse, para mim, é o potencial dividendo positivo, muito maior (ainda que não capaz de anular) reduções de tarifa e coisas assim - e certamente muito maior do que os confrontos na rua ou o lero-lero vazio de mensalões e corrupções que tentam de forma canhestra nos empurrar goela abaixo. Mas não consigo deixar de lembrar Londres 2011, e não consigo deixar de pensar que, quanto mais a gente reforçar a lógica de violência que alimenta a si mesma nessas situações, mais perto estaremos do simples evento que vira memória de juventude e do fim prematuro de algo lindo e imenso e que merece e precisa existir. Porque do mesmo modo que eu acho que é o amor que nos leva para a rua, é a falta de amor que nos afasta dela. Foi assim até há pouco e pode voltar a ser.

É o que o meu coração está dizendo no momento.