quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sobre rostos escanhoados no centro de Porto Alegre

A mão me toca no ombro de surpresa, interrompendo meu devaneio-caminhada na manhã de muitos rostos e ausente de conhecidos no centro de Porto Alegre.

- Cara, tu é um privilegiado - me diz o homem de meia altura, cabelo castanho claro, rosto bem escanhoado, boca tremendo em um sorriso que tentava ser simpático. Obviamente, não entendi nada.

- Mesmo? - respondi, tentando sorrir de volta. - E por quê isso?

Ele sorri, agora de forma mais aberta, e aponta para o próprio rosto.

- A barba - acrescenta, quase em júbilo, como se ao dizer isso magicamente tivesse ele também o rosto coberto de fios. - Quisera eu ter uma barba como a tua. Sempre quis ter e nunca cresceu.

Contou-me rapidamente, com frases breves, que nunca lhe surgiu mais do que breves fios de bigode e uns tocos de barba no queixo, o que certamente o tinha deixado bastante frustrado com a própria genética. Elogiou mais de uma vez minha barba e completou:

- Porque barba bonita é bem cheia, assim que nem a tua!

Despediu-se com um aperto de mão breve e comovido, como se eu lhe tivesse prestado algum grande favor, pelo qual se sentisse muitíssimo grato.

Incrível, o que às vezes faz falta às pessoas.

Sigo sem entender o que a minha barba fez para merecer tanta deferência. Mas vou esperar mais uns dias antes de apará-la, por via das dúvidas.