sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobre a urgência (vrs 2)

Deixa eu explicar urgência para você. Está vendo aquela pessoa ali, que acabou de olhar no seu rosto enquanto passava a esquina? Pois ela não existe mais. Acabou, ficou para tras, sumiu no mundo que já foi e nunca mais será de novo. Aquela pessoa que você viu pela janela do ônibus? Morreu. Talvez não morta na morte, mas certamente morta na vida, sumida na multidão de coisas que não foram feitas, ditas, sentidas e que agora foram tragadas pelo tarde demais. Talvez voltem, você diz. Não voltarão, digo eu em resposta. Voltar é acaso, é exceção, é coisa que mais deixa de acontecer do que acontece, o tempo todo, a vida toda. Nada volta. Não foi, não vai ser - será um aborto de ideia, um rascunho inútil, uma lembrança aleijada do que não existe para ser lembrado. Queria voltar no tempo, você me dirá. Delírio, respondo. Não vai voltar. Nem o que foi bom, nem o que foi ruim, nem o que está sendo nesse exato momento e você aí, deixando ser sem fazer nada a respeito. Nada volta. O abraço não volta, o beijo não volta, o grito, a dor, o medo, a dúvida, a certeza. Nada. Nunca. E é isso, meu caro, que é a urgência: a sensação permanente de estar correndo atrás do que acabou de deixar de existir. Na esperança de em algum momento, pelo puro acaso, agarrar no ar a mágica, o milagre que nega o mundo e consegue permanecer.