sexta-feira, 27 de abril de 2012


Pegar o dia em que nada deu certo e tentar tirar dele algum resquício que seja do extraordinário. Juntar toda a raiva e tristeza e pressão e loucura e desânimo e auto-destruição... E espremer. Apertar entre os dedos, torcer e torcer e torcer em busca do extrato mágico, do toque de cor e energia que dá o mínimo de sentido ao esmagador absurdo. Até que surja um caldo de sonho, uma gota pequena que seja, um minúsculo resquício do rio que foi correr em algum lugar que ninguém mais sabe onde fica.

Surge a gota.

E a gota cai, faz um movimento de retilínea elegância rumo ao chão, e logo vai sumindo na terra, desaparecendo, voltando a ser apenas uma lembrança e uma suspeita.

Por um instante, o choque.

Então, o sorriso.

Não tem problema, pensa. E de um golpe se atira ao chão, beijando o solo, tentando sugar a gota de volta para si. Não tem problema, pensa de novo. Não tem problema.