domingo, 8 de abril de 2012

Trecho de um conto que está parado desde 2008. Uma história de submundo do rock, explicando o fim prematuro de uma banda promissora com um pouco do surrealismo alegórico que acaba sempre entrando nas coisas que escrevo. Era para ser uma história um pouco mais longa, talvez uma novela quem sabe. Ainda acho a ideia boa, mas não sei se vou completar a história um dia. De qualquer modo, estava fuçando arquivos antigos e a encontrei aqui, de forma que me deu vontade de compartilhar - mesmo porque, aqui entre nós, Antediluvian Beast é um nome bem sonoro e estranho para uma banda.

Tudo começou quando meu editor me encarregou de localizar algum ex-membro do Antediluvian Beast, de preferência o vocalista Elliot Greene. Como vocês devem saber, o guitarrista Richie Baumgarten foi encontrado morto há uns vinte dias, atirado em uma cama imunda de um motel escroto com uma seringa espetada no braço – vocês sabem, a típica morte de rock star. Pelo que disseram os legistas, a heroína era ruim, e a quantidade injetada tinha ajudado bastante também. Droga, 27 anos não é idade para morrer, não importa o que Jim Morrison ou Kurt Cobain possam dizer a respeito. Seja como for, Elliot e Richie tinham sido a dupla responsável por quase todo o material do outrora promissor conjunto, e seria jornalisticamente interessante saber de que modo o primeiro encarava a morte do segundo. Além disso, a tragédia talvez fosse a chance de esclarecer outros pontos também.

O Antediluvian Beast tinha sido o típico caso de carreira fulminante. Surgido praticamente de lugar nenhum, o quarteto lançou um disco auto-intitulado, vendeu consideravelmente bem, tocou em todos os lugares que fazem alguma diferença e passou a ser visto como um dos grupos mais relevantes e promissores de sua geração. Vocês sabem como é, aquele rock de sonoridade suja, com melodias que colam no cérebro e letras existencialistas – não tinha como não dar certo, a molecada adora essas coisas. Seja como for, a banda emplacou pelo menos dois hits de alguma repercussão e, como sempre acontece, trouxe na esteira de seu sucesso uma manada de imitadores. Todos concordam que, se tivesse conseguido lançar um segundo disco à altura do primeiro, o Antediluvian Beast teria tudo para crescer muito mais e parar sabe lá Deus onde. Mas o segundo álbum nunca veio, a banda perdeu o timing, desapareceu completamente da cena e, não fosse a morte trágica de seu guitarrista, dificilmente ouviríamos qualquer palavra sobre o grupo na mídia, seja ela especializada ou qualquer outra.