quinta-feira, 12 de abril de 2012

Diálogo sobre a morte

"Quem é você?"

"Não fará muita diferença saber quem sou. Estou apenas de passagem. Estarei aqui por poucos minutos; em seguida partirei e nunca mais me verás."

"Então, não deves ser deste Mundo."

"Não sou, de fato. Porém, certamente sabes que não há outros Mundos: este é o único. Eu, que vejo tudo de fora, posso dizer."

"Vês tudo de fora? Se é verdade, então deves saber bem como o Mundo funciona. Explica-me."

"Não sei muito do Mundo, na verdade. Vejo-o sempre de longe. Entendo um bocado da Vida e um pouco sobre a Morte, mas é só."

"Ah, é? Então me conte mais a respeito da Morte."

"Morte? Que dúvida curiosa a tua. Afinal, estás vivo. Porque desejas saber não da Vida, e sim sobre a Morte?"

"Não sei ao certo. Acho que a Vida nunca me atraiu. A Morte é mais dramática e fascinante. Além disso, a Vida acaba e a Morte é eterna. Seja como for, conte-me mais a respeito da Morte."

"Hmmm. É difícil explicar com palavras. Acho que será mais fácil entender se eu apenas mostrar. Olhe nos meus olhos."

Olhou, e viu. Viu a chuva inclemente, o céu rasgado pelos relâmpagos, a maré alta. Viu a lama cobrindo as plantações, as árvores retorcidas, os cadáveres cobertos de moscas varejeiras. Viu cães brigando por restos de comida enquanto bombas desabavam no horizonte. Viu ratos que saltavam dos prédios, fugindo do fogo rumo ao abismo. Viu relógios que giravam rápido demais, sumindo em meio ao enxofre que tudo cobria. Viu que alguns choravam, que muitos gritavam e que outros tantos gargalhavam em meio aos gritos. Viu traição, viu mentira, viu medo, viu ódio e trapaça. Viu crianças e velhos, reis que tremiam de medo, casais que se despediam. Viu uma estrela pesada caindo do céu; ao longe, quase inaudível, uma voz fazia o batismo, gritando o nome uma vez, e depois mais uma, e depois mais uma. Absinto, era o nome que gritavam. Absinto.

Quando cansou-se de ver, cerrou com força as pálpebras.

"É isso que é a Morte, então?", disse enfim, chorando de medo e revolta. "Uma coleção de tormentos? Um espetáculo sádico onde tudo é dor e desespero?"

"Não. Isso é a Vida. A Morte é o que viste quando fechaste os olhos".